sábado, 7 de novembro de 2009

o que é um professor? por humberto maturana


Transcrição do trecho final da aula de encerramento de Humberto Maturana no curso de Biologia Del Conocer, Facultad de Ciencias, Universidad de Chile, Santiago, em 27/07/90.

Gravado por Cristina Magro; transcrito por Nelson Vaz.

Humberto Maturana dizendo…

- Alguma outra pergunta?

- Sim, Professor. Que é um professor? Ou, quem é um professor?

- Humm (pausa)

(Risos)

(Escreve ao quadro negro:)

- Professor, Mestre. E, portanto, está aqui: ensinar. Creio que aqui aparece este conceito.
O que é ensinar? Eu lhes ensinei a Biologia do Conhecer? Sim, se alguém abre a porta desta sala… (desloca-se até a porta, simula ouvir alguém que bate à porta e, então, se desculpa, e diz a outro alguém: ) … “Nesta sala está o Professor Humberto Maturana ensinando Biologia do Conhecer” (desloca-se de volta:)
Eu lhes ensinei a Biologia do Conhecer? Em um sentido, com relação à responsabilidade perante a Faculdade, eu lhes ensinei a Biologia do Conhecer.

(Risos)

- Mas o que fizemos nós ao longo deste semestre?

- Desencadear mudanças estruturais.

- Desencadear mudanças estruturais, desencadear perturbações. E como fizemos isso?

- Em coordenações de coordenações de ações.

- Em coordenações de coordenações de ações. Ou, seja: vivendo juntos. Claro, uma vez por semana, viver juntos uma hora, uma hora e meia, duas horas, ou, alguns estudantes, que permaneceram comigo mais horas… isso era viver juntos. Vocês podem dizer: “Sim, mas eu estava sentado escutando”. Isso se estavam verdadeiramente escutando, como espero.

(Risos)

- Estavam sendo tocados, alegrados, entristecidos, enraivecidos… Quer dizer, se passaram todas as coisas do viver cotidiano. Mexeram com as idéias, rejeitaram algumas.
Saíram daqui conversando isto e mais aquilo… “Estou fazendo um trabalho…” Estavam imersos na pergunta: “Como prosseguir de acordo com o que lhes ia passando, vivendo juntos, comigo, em um espaço que se ia criando comigo.”
Então, qual foi a minha tarefa? Criar um espaço de convivência. Isto é ensinar. Bem, eu ensinei a vocês. E vocês, ensinaram a mim?

- Sim.

- Claro que sim! Ensinamo-nos mutuamente. “Ah, mas acontece que eu tinha a responsabilidade do curso, e ia guiando o que acontecia”. De certa forma, sim, de certa forma, não. De certa forma, sim, porque há certas coisas que eu entendo da responsabilidade e do espaço no qual me movo nesta convivência, e tinha uma certa orientação, um fio condutor, um certo propósito. Mas vocês, com suas perguntas, foram empurrando esta coisa para lá, e para cá, e foram criando algo que foi se configurando como nosso espaço de convivência.

E o maravilhoso de tudo isso é que vocês aceitaram que eu me aplicasse em criar um espaço de convivência com vocês. Vocês se dão conta do significado disso? Foi exatamente igual ao que ocorreu quando vocês chegaram, como crianças, ao jardim de infância, e estavam tristes, emburrados, a Mamãe se foi, estão chorando, “Ahhh, eu quero minha mãe”, e chega a professora, e oferece a mão e vocês a recusam, mas ela insiste, e, então, vocês pegam sua mão. E o que se passa quando a criança pega na mão da professora? Aceita um espaço de convivência.

Com vocês se passou a mesma coisa. Em algum momento, aceitaram minha mão. E, no momento em que aceitaram minha mão, passamos a ser co-ensinantes. Passamos a participar juntos neste espaço de convivência. E nos transformamos, em congruência…
De maneiras diferentes, porque, claro, temos vidas diferentes, temos diferentes espaços de perguntas, temos experiências distintas. Mas nos transformamos juntos, e agora podemos ter conversas que antes não podíamos.

E quem é o professor? Alguém que se aceita como guia na criação deste espaço de convivência. No momento em que eu digo a vocês: “Perguntem”, e aceito que vocês me guiem com suas perguntas, eu estou aceitando vocês como professores, no sentido de que vocês me estão mostrando espaços de reflexão onde eu devo ir.
Assim, o professor, ou professora, é uma pessoa que deseja esta responsabilidade de criar um espaço de convivência, este domínio de aceitação recíproca que se configura no momento em que surge o professor em relação com seus alunos, e se produz uma dinâmica na qual vão mudando juntos.

extraído de:
http://bitacula.wordpress.com/2009/09/09/o-que-e-ensinar-o-que-e-um-professor-maturana/




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sexta-feira, 6 de novembro de 2009

games, guerra e história

curto documentário da discovery que relaciona a indústria da guerra à indústria do intreterimento.

vale para quem curte game, mas para quem não curte também!

aí vai o link:

http://tvuol.uol.com.br/permalink/?view/id=como-e-possivel--a-relacao-entre-videogames-e-guerra-0402346ED4C16366/user=yaq680z51683/date=2009-11-05&&list/type=tags/tags=23053/edFilter=all/




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quarta-feira, 4 de novembro de 2009

para que serve uma monocotiledônea? palestra de luli radfahrer

vídeo visto e discutido em sala em 14/10/09




só para lembrar: no link "para ler" tem diversos textos que podem ser pesquisados para a elaboração dos ensaios!

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quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Educomunicação, uma revolução na sala de aula

Entrevista com Ismar Soares à FOLHA DIRIGIDA
Alessandra Moura Bizoni

Após lecionar Geografia e História, Ismar Soares decidiu ingressar na carreira jornalística. Atuando no jornalismo religioso e educacional, percebeu o abismo existente entre os meios de comunicação e a prática em sala de aula. Ao mesmo tempo, em sua ação no magistério, principalmente na área de Geografia, percebia uma demanda crescente por novos recursos pedagógicos.

Esses questionamentos levaram o professor da Escola de Comunicação e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo (USP) a pesquisar a inter-relação entre essas duas áreas, salientando o uso da produção dos meios de Comunicação em sala de aula e a sua apropriação por sujeitos da sociedade civil. O resultado foi a criação do conceito de "Educomunicação". Ismar Soares atribui a autoria do conceito ao uruguaio Mário Kaplun. "O conceito inicialmente foi usado por ele, que o usava como sinônimo de educación a los medios, ou conceito de comunicação educativa. Porém, eu entendi que esse conceito poderia ganhar um novo significado para abranger todas as ações advindas dessa relação", explica o docente.

Passados 15 anos da certificação do primeiro curso de especialização em Comunicação e Educação da USP, veio o reconhecimento acadêmico. No 28º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação (Intercom/2005), realizado de 5 a 9 de setembro na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), o Núcleo de Comunicação e Educação (NCE), coordenado pelo professor Ismar Soares, foi contemplado com o Prêmio Luiz Beltrão, na qualidade de Grupo Inovador. Também neste ano, a Câmara Municipal de São Paulo aprovou a chamada Lei Educom, sancionada no dia 15 de agosto, indicando a intenção da Prefeitura de São Paulo em continuar com as atividades do programa Educom.rádio — programa desenvolvido entre 2001 e 2004, em escolas municipais de São Paulo destinado à formação de 11 mil pessoas, entre professores, alunos e membros das comunidades educativas de 455 unidades.

Em entrevista à FOLHA DIRIGIDA, o professor Ismar Soares apresenta a Educomunicação, explicando as potencialidades do uso de linguagens dos meios de Comunicação como ferramentas de aprendizado e construção da cidadania. "A Educomunicação, contudo, chega com a proposta de revolucionar esse espaço, permitindo que toda a comunidade se envolva com a Comunicação e que haja sempre uma pergunta em qualquer planejamento educativo: como é que eu estou me comunicando? Como é que o meu procedimento ajuda ou atrapalha os procedimentos comunicativos? Como transformar essas relações num espaço de abertura dialógica?", questiona o educador. Eis a entrevista:


FOLHA DIRIGIDA - Como surgiu a Educomunicação?
Ismar Soares - Pelo fato de eu conviver nas duas áreas (Educação e Jornalismo), eu senti as resistências mútuas, os dois universos se rejeitando, ao invés de se atraírem. Por viver nesses dois universos, e por ser, em especial, um professor de Geografia que, para trabalhar os conceitos relacionados a espaço, tempo, culturas e organização de povos, sempre fiz uso da produção cinematográfica e videográfica das televisões nacionais e internacionais, eu percebia o quanto era importante levar em conta as possibilidades da comunicação, especialmente a comunicação audiovisual, a comunicação escrita. E a aproximação com o mundo do audiovisual e o mundo do documentário me levou também a uma percepção das limitações desse tipo de projetos e programas e da necessidade de encontrar no pólo da educação alguém que conhecesse as linguagens da mídia, que pudesse ter critério na escolha desses produtos e que até incentivasse os próprios alunos a passarem a usar esses mecanismos, essas linguagens, para os seus trabalhos de reconhecimento da presença do homem sobre a face da Terra.


FOLHA DIRIGIDA - E como o conceito de Educomunicação foi criado?
Ismar Soares - O conceito surge dessa prática, que é uma prática de observar o comportamento dos dois âmbitos. Encontramos na sociedade latino-americana, especialmente, um grande número de pessoas, vindas das mais diversas áreas, usando a comunicação de uma forma alternativa. Eram as pessoas que estavam lutando para colocar na pauta da sociedade temas como o meio ambiente, as questões de gênero, de etnias, das minorias, os indígenas. Estas pessoas estavam fora da mídia, ou eram secundários na mídia, ou apareciam na mídia apenas quando algum fato extraordinário exigia que esses assuntos aparecessem. Porém, gente da sociedade estava se mobilizando. E isso aconteceu através da chamada imprensa alternativa, comunicação alternativa, e vai acontecer através da ação das ONG’s.


FOLHA DIRIGIDA - Esse movimento aconteceu em que época?
Ismar Soares - Isso foi anos 70 e 80. A imprensa alternativa é vista hoje muito como imprensa de resistência ao Regime Militar. E foi. Mas não foi só isso. Foi especialmente um trabalho de engajamento na reforma da sociedade em geral. A multiplicação das ONG’s nos anos 70 e 80 teve como palco os grupos que queriam interferir na sociedade. E descobriram que não poderiam interferir, não fosse a presença do jornal mimeografado ou do pequeno programa de vídeo. Em 1982, o vídeo chega ao Brasil. Em 1984, 40% das associações que trabalhavam com movimento popular já possuíam uma câmera de vídeo e já faziam documentários. A apropriação do movimento popular com relação aos meios foi muito rápida. E com o barateamento dos equipamentos nos anos 90, o uso alternativo ficou ainda mais denso, mais forte. Agora, o conceito Educomunicação em si mesmo era um conceito que já existia e designava tão somente a questão da recepção crítica. A Educomunicação significaria educação para a recepção crítica da mídia. Eu entendi, contudo, que o conceito poderia ser ressignificado. Ganhar um novo sentido.


FOLHA DIRIGIDA - Quem criou esse conceito?
Ismar Soares - O conceito inicialmente foi usado por um uruguaio chamado Mário Kaplun, que o usava como sinônimo de educación a los medios, ou o conceito de comunicação educativa. Porém, eu entendi que esse conceito poderia ganhar um novo significado para abranger todas as ações advindas dessa relação. E aí eu identifiquei várias ações


FOLHA DIRIGIDA - Quais seriam estas ações?
Ismar Soares - Uma primeira ação é a própria educação para recepção crítica, é uma ação, é uma área, importante, presente no mundo inteiro; na Inglaterra chama-se media education; nos Estados Unidos é media literacy, é literatura sobre os meios. Outra área é chamada de expressão comunicativa através das artes. Todo trabalhador de televisão é um artista, ainda que seja um jornalista lendo uma notícia, ele é tratado como artista: o cenário em que ele está é um cenário de artes. A arte é muito usada pela mídia. E a educação também trabalha com arte, com muito menos força. Claro que o arte-educador não tem no sistema educacional um poder muito forte e prestígio. Os governos sempre estão tentando reduzir o trabalho do arte-educador ao mínimo possível. No entanto, nós descobrimos que muita gente usa arte para promover auto-estima das crianças e dos idosos por exemplo, fazendo com que eles se comuniquem melhor. Para nós isso é educomunicação. É uma área da Educomunicação. Existe uma terceira área que nós chamamos área das mediações tecnológicas no espaço educativo. Isso fazendo um contraponto com aquilo que se chama em educação de tecnologias educativas.


FOLHA DIRIGIDA - Qual a diferença entre mediações tecnológicas e tecnologias educativas?
Ismar Soares - A diferença é: a tecnologia educativa é entendida como um instrumento na mão do professor para melhorar a sua performance. Para a educomunicação, a tecnologia é usada como um meio para mediar as relações entre os grupos ativistas e a sociedade. Porque, hoje em dia, é impossível chegar a um público ainda que próximo, um público médio — que dirá um grande público — sem usar os instrumentos da tecnologia. No caso a internet, a mídia impressa, os banners, os folhetos, assim por diante. Mas no caso da tecnologia, ela é entendida como mediação não apenas porque ela transmite, é um canal, mas porque condiciona a própria produção da informação. Existe uma linguagem própria para a televisão, para o rádio, para o jornal, que limita ou fortalece as formas de expressão das pessoas e inclusive cria novas condições de aprendizagem.


FOLHA DIRIGIDA - E quais seriam estas novas condições de aprendizagem?
Ismar Soares - Atualmente, o adolescente é eminentemente visual. Um longo discurso feito para criança, não produz efeito. O poder de concentração está cada vez menor. O jovem adulto também. Eles vivem num mundo fragmentado e a percepção se dá através de flashes. Eles têm aquilo que se chama de inteligência tissular, que é uma inteligência que capta por comparação, não mais pela seqüência lógica de um grande princípio do qual se derivam vários outros princípios e práticas. Em geral, se capta através da sensibilidade que a aproximação entre fatos nos permitam entender alguma coisa. Então, alguma coisa é boa, para boa parte da população, se ela está associada a algo que é agradável à vista, aos ouvidos de quem esteja observando. Uma atriz, ou um ator considerado uma pessoa bonita, bem apessoada, num cenário lindo, maravilhoso, consegue convencer com rapidez, muito mais rapidez, do que alguém apresentando uma longa explicação teórica sobre algum benefício social de algum objeto. A aproximação entre a beleza do ator e o ambiente que o cerca faz parte de um diálogo mediado pelas tecnologias. É graças à tecnologia que aquilo acontece. No caso, a nossa preocupação é saber como a internet, como a mídia televisão, a mídia rádio, interfere neste universo tissular da inteligência contemporânea. A isso tudo chamamos de mediação tecnológica, que é a terceira área.


FOLHA DIRIGIDA - E qual é a quarta área da educomunicação?
Ismar Soares - Uma quarta área da chamada educomunicação é a área da gestão dos processos comunicativos. Se você sabe que é possível educar para a mídia (a primeira área), se você sabe que é importante usar os recursos da mídia para ampliar a forma de expressão das pessoas e usar a arte para isto. Se você percebe que a tecnologia é uma mediação presente e você faz planejamento de como usar isto em dado local, você é um gestor. O gestor é aquele que, conhecendo as carências e necessidades de determinado espaço, ambiente ou grupo, vai buscar na Educomunicação soluções para resolver o problema. Quando damos um curso de Educomunicação, propomos para as pessoas fazer um planejamento educomunicativo. Essas pessoas, em grupos, vão fazer um diagnóstico para perceber onde é que elas estão falhando nas suas relações comunicativas. E qual é a solução educomunicativa para a questão. Alguém diz: meu problema é a violência na escola, meu problema é falta de aprendizado na área das Ciências Exatas, meu problema é a rejeição que grupos de alunos tem com outros grupos, ou com os professores. Seja qual for o problema, haverá uma solução educomunicativa, que tem como meta criar ecossistemas comunicativos abertos, dialógicos, participativos, através de uma gestão democrática dos recursos, através de uma aplicação de conhecimentos sobre como manejá-los. Esse conjunto de atividades nós estamos chamando hoje de Educomunicação.


FOLHA DIRIGIDA - Qual é o perfil do educomunicador?
Ismar Soares - O perfil é de alguém muito preocupado em conhecer a realidade do ambiente em que vive. É, portanto, um pesquisador, não no sentido clássico do pesquisador acadêmico, mas daquele curioso que vai buscar explicações para o que está acontecendo a sua volta. O educomunicador é alguém que está fazendo continuamente análise de conjuntura a respeito do que está acontecendo e buscando, nas Ciências Humanas, explicações. Ele vai buscar na Sociologia, na Política, na Antropologia, onde seja, explicações para o que está acontecendo e dialoga muito sobre isso.


FOLHA DIRIGIDA - E essa pessoa precisa ser, necessariamente, um professor ou um jornalista?
Ismar Soares - Não, não. É alguém que na sociedade está preocupado com essas análises e que, ao se preocupar com essas análises, vai identificar as carências de comunicação nas relações sociais. O problema é fome? Ok. Porém, como a comunicação pode interferir nessa fome? Isto é, como eu poderia estar usando a comunicação ou para divulgar esse fenômeno, ou para colocar as pessoas com fome em contato entre si, para elas mesmas buscarem soluções? O educomunicador é alguém com grande capacidade de análise de conjuntura, auxiliado pelas várias ciências humanas, porém, que tem como ferramenta a comunicação. Quer dizer, a resposta dele não vai ser plantar o arrozal para de lá tirar arroz. Porém, será fazer com que essas pessoas se organizem e, através dos recursos da comunicação, busquem parceiros para solucionar seus problemas.


FOLHA DIRIGIDA - Como é que esse profissional se forma?
Ismar Soares - Ele se forma primeiramente na prática. É alguém que tem vocação para isso, que se envolve, que faz experiências e que encontra espaços de experimentação onde algo já esteja acontecendo. O espaço das ONGs e das Associações é ótimo; e espaço acadêmico também. Só que o espaço acadêmico hoje descobre, hoje está se formando para isso. Eu não vou dizer que exista ainda núcleo de excelência que forneça diplomas em educomunicação. O que existe são núcleos de experimentação e que algo acontece. O exemplo que eu tenho é da minha própria universidade, a Universidade de São Paulo (USP)...


FOLHA DIRIGIDA - Como funciona o Núcleo de Comunicação e Educação na USP?
Ismar Soares - O Núcleo de Comunicação e Educação (NCE) tem oito anos. A experiência do Departamento de Comunicações e Artes da USP é que tem 15 anos. Essa experiência gerou o NCE. A nossa experiência foi de começar a formar especialistas na relação Comunicação/Educação através de cursos. Isso começou em 1990.


FOLHA DIRIGIDA - Como eram esses cursos?
Ismar Soares - Começamos com cursos de especialização. E nós continuamos até hoje, trabalhando com esses cursos de especialização. Às vezes, favorecendo a relação Comunicação/Educação, às vezes favorecendo a relação da gestão — nós temos o curso de gestão de processos comunicacionais. Na formação de especialistas através de cursos de larga duração — são cursos de 400 horas, de 500 horas, portanto demoram três, quatro, cinco semestres — acabamos fornecendo um contingente humano para desenvolvimento de programas. Quando nós conseguimos atingir, através de cursos de extensão, a um grupo grande de pessoas — e para isso necessitamos formar gente — essa formação foi muito mais forte do que as próprias formações nos cursos de especialização. Isto é: para atender a um projeto para formar 12 mil pessoas nas 455 escolas da rede municipal de São Paulo, precisei formar 1.100 pessoas. Essas pessoas foram formadas ao longo do próprio processo.

FOLHA DIRIGIDA - Como funcionou esse curso especificamente?
Ismar Soares - O curso era constituído por 100 horas de atividades durante um semestre. Nós trabalhamos durante sete semestres. E a cada semestre nós tínhamos um curso de 100 horas que era dado para um público formado por 700 pessoas, por mil pessoas, duas mil pessoas. A necessidade de formar 1.100 pessoas fez com que nós organizássemos um sistema formativo que exigia de quem fosse atender um curso de 100 horas na periferia na cidade passar por 60 horas conosco na USP. Na verdade, as pessoas que vinham eram estudantes, quer de graduação, quer de pós-graduação, quer de Comunicação, quer da Educação, quer de outra área. Havia também algumas pessoas que já atuavam na prática, trabalhavam em emissoras e tinham capacidade de desenvolvimento de projetos. Essas pessoas tinham que dominar o conteúdo do curso, o que é Educomunicação, sua metodologia, e trabalhar com professores e alunos para que eles planejassem suas próprias educomunicações. Eram quatro encontros aos sábados, de oito horas cada um e mais três horas por semana de encontros de workshops. Durante esse período, os agentes relatavam sua vivência junto a sua clientela e isso era debatido, discutido com pessoas que tinham já uma formação melhor, mais avançada em educomunicação. Foi numa prática, no exercício de um projeto, em que nós formamos um grupo de 1.100 pessoas.


FOLHA DIRIGIDA - Como o meio acadêmico recebeu a idéia de educomunicacão?
Ismar Soares - O meio acadêmico recebeu com suspeitas, porque para a Academia, especialmente para a área de Educação, não havia nada de novo além das tecnologias educativas. Não havia necessidade de se preocupar com o assunto. E, na verdade, a área de Educação, a partir da perspectiva iluminista, entende Comunicação como um conjunto de recursos. A área de Educação teve uma suspeita de que alguém externo chegasse e ocupasse a sua área. É como se tivesse alguém invadindo a minha praia. O que nós tentamos dialogar com Educação é que Educomunicação não vem para combater Educação, mas vem para associar. E se ela é um campo autônomo, é porque ela tem referenciais teóricos próprios, metodologias próprias, porém, que não colidem com Educação. Ao contrário, a Educomunicação vem colaborar com Educação.


FOLHA DIRIGIDA - E da área de Comunicação, houve preconceito?
Ismar Soares - Sim, existe preconceito porque a Comunicação foi entendida como uma área muito próxima à manipulação e ao manejo de recursos e tecnologias para difusão de informações. É uma visão funcionalista que concentra a Comunicação no âmbito não só das linguagens, mas também como domínio de técnicas e procedimentos, voltados para a expectativa aberta pelo mercado. A perspectiva tradicional do mercado era a Comunicação massiva, de entretenimento. A Comunicação demorou muito para aceitar a Educação como área de intervenção. Já aceitou. A partir dos anos 90, então, houve um boom, uma explosão de meios de comunicação voltados para a Educação. A Educomunicação, contudo, vai além da chamada Comunicação Educativa: fala em processos, em criação de ecossistemas comunicativos e em confrontar-se com a perspectiva funcionalista da mídia. Ela adota a perspectiva da teoria das mediações. Também a Comunicação olhou com suspeita, porém os efeitos produzidos na sociedade, a demanda da sociedade com relação a esse universo, suplantou as rejeições. A Intercom, enquanto uma instituição de pesquisadores de Comunicação, simplesmente constatou que existe um fato social, uma demanda, uma procura por formação neste campo. Pesquisas já aconteceram. Foram só na Escola de Comunicação e Artes (ECA) da USP, nos últimos cinco anos, 50 teses sobre esse assunto. Não havia mais como negar a existência. As pessoas passaram a discutir o que é Educomunicação e poderão até criticar, fazer propostas, sugestões de mudanças de encaminhamento. Contudo, o fato é que o conceito já está na praça. No NCE damos assessoria para implementação de projetos, damos cursos em formação de educomunicadores e desenvolvemos pesquisas.


FOLHA DIRIGIDA - A partir dessa prática em São Paulo, onde há vários projetos implementados, já existe algum estudo dos impactos desses projetos no desempenho dos estudantes e nas relações entre a comunidade escolar?
Ismar Soares - Nós temos uma declaração da ex-secretária de Educação do município de São Paulo, Cida Perez, afirmando que, a partir da implantação do Educom houve imediatamente uma redução em 50% da violência das escolas. Isso foi constatado pelos registros policiais. Depois de participar desses cursos, os alunos e a comunidade vêm falar como a vida mudou para eles. E mudou numa perspectiva otimista. Agora eu consigo conversar, agora eu estou desenvolvendo ações de colaboração com os colegas para melhorar a vida na escola.


FOLHA DIRIGIDA - O que de novo a proposta de Educomunicação pode trazer para as práticas educacionais?
Ismar Soares - Ela traz o reconhecimento da importância da Comunicação na vida da sociedade contemporânea. Não se pode viver sem Comunicação. E o espaço educativo tem que se transformar num espaço comunicativo. Começa-se a discutir até a própria arquitetura da escola. Na atual, as pessoas se olham entre em quatro paredes, enquanto a Comunicação derruba paredes. A escola tem que se repensar, pela Educomunicação, até no seu espaço físico.


FOLHA DIRIGIDA - Ultimamente, nas avaliações nacionais e internacionais, como Pisa e Saeb, os alunos brasileiros têm apresentado um fraco desempenho. De que forma a Educomunicação pode ajudar a reverter esse quadro?
Ismar Soares - A Educomunicação ajuda a reverter esse quadro porque vai facilitar o desenvolvimento das múltiplas inteligências. Se eu baseio a educação apenas na inteligência matemática, reflexiva e não desenvolvo as demais inteligências ... Para um menino que tem uma grande inteligência auditiva e grande capacidade de produzir música, o rádio é uma linguagem muito adequada. Na rádio, ele vai começar a escrever para usar o seu script. Ele vai dominar uma tecnologia de conhecimento que não utilizava antes porque ele não era requisitado para isso. Então, a inteligência auditiva exigirá que ele desenvolva outras inteligências. A Educomunicação, ao propiciar ou favorecer envolvimento de cada um nas múltiplas linguagens da sociedade contemporânea, vai permitir que uma inteligência favoreça a outra. E que o aluno não fique apenas sendo aquele que é requerido numa linguagem à qual ele não tem uma afinidade muito próxima. Nós chegaremos até a inteligência matemática através da inteligência musical, por exemplo.


FOLHA DIRIGIDA - E como o sr. avalia o tratamento que as escolas dão à Comunicação e às novas tecnologias no seu dia-a-dia com os alunos?
Ismar Soares - As escolas, no seu dia-a-dia, trabalham ainda a partir do parâmetro iluminista, da teoria das mediações e da perspectiva funcionalista da Comunicação. Enquanto ela continuar manejando esses conceitos, ela até chegará a adotar a Comunicação, porém, não como algo transformador, mas como um auxiliar, que vai ocupar algum espaço — caso haja interesse imediato do professor. A Educomunicação, contudo, chega com a proposta de revolucionar esse espaço, permitindo que toda a comunidade se envolva com a Comunicação e que haja sempre uma pergunta em qualquer planejamento educativo: como é que eu estou me comunicando? Como é que o meu procedimento ajuda ou atrapalha os procedimentos comunicativos? Como transformar essas relações num espaço de abertura dialógica? Existem algumas perguntas que a Educomunicação faz para a Educação. E isso permitirá uma abertura desse espaço ao mundo contemporâneo.

Entrevista publicada em 20/12/2005. Extraída do Site do NCE/USP (Núcleo de Comunicação e Eduação da Universidade de São Paulo). Acessado em 02/08/2009.
link para o site: http://www.usp.br/nce/wcp/exe/public.php?wcp=/novidades/informe,7,502

terça-feira, 19 de maio de 2009

greve de ônibus

olá pessoal!
devido a greve de ônibus as atividades de hoje (visita aos campos de estágio, aula e prova) estão suspensas, ok. amanhã, se a greve continuar continua a suspensão. a prova ficará para semana que vem e as visitas remarcaremos!
até

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domingo, 17 de maio de 2009

porque hoje é domingo

um belo texto de rubem alves sobre ensinar e ensinar a ver.

A complicada arte de ver

Ela entrou, deitou-se no divã e disse: "Acho que estou ficando louca". Eu fiquei em silêncio aguardando que ela me revelasse os sinais da sua loucura. "Um dos meus prazeres é cozinhar. Vou para a cozinha, corto as cebolas, os tomates, os pimentões _é uma alegria! Entretanto, faz uns dias, eu fui para a cozinha para fazer aquilo que já fizera centenas de vezes: cortar cebolas. Ato banal sem surpresas. Mas, cortada a cebola, eu olhei para ela e tive um susto. Percebi que nunca havia visto uma cebola. Aqueles anéis perfeitamente ajustados, a luz se refletindo neles: tive a impressão de estar vendo a rosácea de um vitral de catedral gótica. De repente, a cebola, de objeto a ser comido, se transformou em obra de arte para ser vista! E o pior é que o mesmo aconteceu quando cortei os tomates, os pimentões... Agora, tudo o que vejo me causa espanto."

Ela se calou, esperando o meu diagnóstico. Eu me levantei, fui à estante de livros e de lá retirei as "Odes Elementales", de Pablo Neruda. Procurei a "Ode à Cebola" e lhe disse: "Essa perturbação ocular que a acometeu é comum entre os poetas. Veja o que Neruda disse de uma cebola igual àquela que lhe causou assombro: ';;;;;;Rosa de água com escamas de cristal';;;;;;. Não, você não está louca. Você ganhou olhos de poeta... Os poetas ensinam a ver".

Ver é muito complicado. Isso é estranho porque os olhos, de todos os órgãos dos sentidos, são os de mais fácil compreensão científica. A sua física é idêntica à física óptica de uma máquina fotográfica: o objeto do lado de fora aparece refletido do lado de dentro. Mas existe algo na visão que não pertence à física.

William Blake sabia disso e afirmou: "A árvore que o sábio vê não é a mesma árvore que o tolo vê". Sei disso por experiência própria. Quando vejo os ipês floridos, sinto-me como Moisés diante da sarça ardente: ali está uma epifania do sagrado. Mas uma mulher que vivia perto da minha casa decretou a morte de um ipê que florescia à frente de sua casa porque ele sujava o chão, dava muito trabalho para a sua vassoura. Seus olhos não viam a beleza. Só viam o lixo.

Adélia Prado disse: "Deus de vez em quando me tira a poesia. Olho para uma pedra e vejo uma pedra". Drummond viu uma pedra e não viu uma pedra. A pedra que ele viu virou poema.

Há muitas pessoas de visão perfeita que nada vêem. "Não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores. Não basta abrir a janela para ver os campos e os rios", escreveu Alberto Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa. O ato de ver não é coisa natural. Precisa ser aprendido. Nietzsche sabia disso e afirmou que a primeira tarefa da educação é ensinar a ver. O zen-budismo concorda, e toda a sua espiritualidade é uma busca da experiência chamada "satori", a abertura do "terceiro olho". Não sei se Cummings se inspirava no zen-budismo, mas o fato é que escreveu: "Agora os ouvidos dos meus ouvidos acordaram e agora os olhos dos meus olhos se abriram".

Há um poema no Novo Testamento que relata a caminhada de dois discípulos na companhia de Jesus ressuscitado. Mas eles não o reconheciam. Reconheceram-no subitamente: ao partir do pão, "seus olhos se abriram". Vinícius de Moraes adota o mesmo mote em "Operário em Construção": "De forma que, certo dia, à mesa ao cortar o pão, o operário foi tomado de uma súbita emoção, ao constatar assombrado que tudo naquela mesa _garrafa, prato, facão_ era ele quem fazia. Ele, um humilde operário, um operário em construção".

A diferença se encontra no lugar onde os olhos são guardados. Se os olhos estão na caixa de ferramentas, eles são apenas ferramentas que usamos por sua função prática. Com eles vemos objetos, sinais luminosos, nomes de ruas _e ajustamos a nossa ação. O ver se subordina ao fazer. Isso é necessário. Mas é muito pobre. Os olhos não gozam... Mas, quando os olhos estão na caixa dos brinquedos, eles se transformam em órgãos de prazer: brincam com o que vêem, olham pelo prazer de olhar, querem fazer amor com o mundo.

Os olhos que moram na caixa de ferramentas são os olhos dos adultos. Os olhos que moram na caixa dos brinquedos, das crianças. Para ter olhos brincalhões, é preciso ter as crianças por nossas mestras. Alberto Caeiro disse haver aprendido a arte de ver com um menininho, Jesus Cristo fugido do céu, tornado outra vez criança, eternamente: "A mim, ensinou-me tudo. Ensinou-me a olhar para as coisas. Aponta-me todas as coisas que há nas flores. Mostra-me como as pedras são engraçadas quando a gente as têm na mão e olha devagar para elas".

Por isso _porque eu acho que a primeira função da educação é ensinar a ver_ eu gostaria de sugerir que se criasse um novo tipo de professor, um professor que nada teria a ensinar, mas que se dedicaria a apontar os assombros que crescem nos desvãos da banalidade cotidiana. Como o Jesus menino do poema de Caeiro. Sua missão seria partejar "olhos vagabundos"...

in.:http://www.escolaconectada.org.br/pesquise/texto/textos_art.aspx?id=71

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quinta-feira, 14 de maio de 2009

ser criança não significa ter infância

este documentário apresenta a infância a partir de um ponto de vista histórico: desde sua invenção por volta do renascimento até os dias de hoje. é um filme que se preocupa com problemática central: o que significa ser criança, ou melhor dizendo, o que significar ter infância e é justamente a história e a reflexão sobre a criança e a infância no presente que nos permite entender como é possível na sociedade contemporânea, repleta de legislações acerca dos direitos das crianças, estarmos cadas vez mais produzindo crianças sem infância. seja pelo trabalho infantil nas camadas sociais desprovidas dos bens materiais e de consumo, seja pela acumulação de atividades sem-fim além da escola, nas classes médias, a infância vem sido encurtada e o que vimos cada vez mais são crianças vivendo vidas de adultos.
o filme está em total sintonia como que viemos discutindo na disciplina desde o início do semestre e mesmo que não estivesse merece estar no blog porque é uma bela reflexão sobre como nossa cultura pode criar ou destruir esperanças.



ficha técnica:
A Invenção da Infância
Gênero Documentário
Diretor Liliana Sulzbach
Ano 2000
Duração 26 min
Cor Colorido
Bitola 16mm
País Brasil

Produção Monica Schmiedt, Liliana Sulzbach Fotografia Adrian Cooper, Alex Sernambi Roteiro Liliana Sulzbach Edição Ângela Pires Som Direto Valeria Ferro, Mário (Porto Alegre) Animação Tadao Miaqui Trilha original Nico Nicolaiesvky Edição de som Luiz Adelmo Narração Kiko Ferraz Assistente de Direção Camilo Tavares, Rosi Badinelli Assistente de Câmera Francisco Ribeiro, Cristiano Conceição Assistente de Produção Alberto Pietro Bigatti Assistente de edição Henrique Montanari, Alberto Pietro Bigatti Pesquisa Amabile Rocha Mixagem Luiz Adelmo Eletricista Wagner Gonçalves Música Nico Nicolaiewsky Motorista Jorge Pinheiro (Bahia), Wagner Machado (São Paulo) Assistência de Trucagem Rafael (Sapo) Material Gráfico Flávio Wild, Macchina Desenho de Imagem & Som

Prêmios
Melhor Filme - Júri Popular no Festival de Bilbao 2000
Melhor Filme Latino Americano e Caribenho no Festival de Bilbao 2000
Melhor Diretor no Festival de Cinema do Recife 2001
Melhor Filme no Festival de Cinema do Recife 2001
Melhor Montagem no Festival de Cinema do Recife 2001
Melhor Roteiro no Festival de Cinema do Recife 2001
Melhor Diretor - 16mm no Festival de Gramado 2000
Melhor Filme no Festival de Gramado 2000
Melhor Roteiro no Festival de Gramado 2000
Melhor Filme - Júri Popular no Festival de Tiradentes 2000
Melhor Filme Média Metragem no Grande Premio Cinema Brasil 2001
Melhor Curta no Images du Noveau Monde Quebec 2001
Melhor Filme - Júri Popular no Mostra de 16mm de Itaguatinga 2001
Melhor Curta no Short Shorts International film Festival Tokio 2001

informações extraídas do site do Porta Curtas


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